A Ligação Entre Vício em Jogos, Álcool e Outras Drogas

Transtornos Associados: A Ligação Entre Vício em Jogos, Álcool e Outras Drogas

A dependência raramente caminha sozinha. E isso é algo que aprendi ao mergulhar em diversos estudos e relatos de especialistas que trabalham diretamente com transtornos de comportamento e saúde mental. Quando falamos em vício em jogos de azar, não podemos ignorar a sua relação perigosa com outras formas de dependência, como o alcoolismo e o uso abusivo de drogas.

Essa coexistência entre diferentes vícios é conhecida como comorbidade — e tem se tornado cada vez mais comum em clínicas de reabilitação, consultórios de psicólogos e centros de apoio. E o que mais me chamou atenção: em muitos casos, o vício em jogos é o ponto de partida.

A psicologia do vício: por que eles se conectam?

Segundo a psiquiatra Dra. Camila Tavares, especialista em transtornos impulsivos, o vício em jogos ativa as mesmas áreas cerebrais ligadas ao prazer imediato e à liberação de dopamina que o uso de drogas ou álcool.

“A pessoa que se envolve com jogos compulsivamente experimenta uma sensação intensa de euforia. Quando essa sensação passa, o cérebro entra em abstinência emocional — e é aí que o álcool ou drogas podem surgir como formas de compensação”, explica ela.

Ou seja, o vício comportamental fragiliza a mente. E, diante da frustração, da perda de controle e da ansiedade gerada pelas apostas, o cérebro passa a buscar novas fontes de alívio — mesmo que elas sejam destrutivas. O resultado: uma armadilha dupla, que mistura comportamentos compulsivos com dependência química.

Quando o jogo vira fuga — e o álcool, companhia

Em diversos relatos, encontrei um padrão: muitos jogadores compulsivos relatam que começaram a beber com mais frequência após perdas expressivas nas apostas. O álcool surge como um anestésico emocional, como uma tentativa de silenciar a dor da falência, da vergonha e do arrependimento.

O psicólogo clínico Rafael Miranda, que atua com dependência há mais de 15 anos, relata que:

“É comum que os jogadores que chegam aos centros de reabilitação também estejam com o organismo intoxicado por álcool, ansiolíticos ou drogas ilícitas. Eles se veem presos a dois ou mais vícios ao mesmo tempo, o que torna o tratamento ainda mais complexo.”

Esses pacientes costumam apresentar sintomas como:

  • Irritabilidade constante;
  • Déficits de atenção e memória;
  • Oscilações de humor;
  • Insônia;
  • Baixa autoestima;
  • Pensamentos obsessivos.

Tratar um único vício nesses casos não é suficiente. É preciso trabalhar a mente como um todo — e principalmente, o contexto emocional que levou a essa dependência múltipla.

O perigo silencioso da normalização

Uma das maiores armadilhas da atualidade é a normalização dos jogos online e das apostas esportivas. Plataformas são facilmente acessadas por celular, propagandas oferecem bônus “irresistíveis”, e o jogo é mascarado como entretenimento.

Esse cenário cria uma falsa sensação de controle — especialmente entre jovens e adultos mais vulneráveis. Quando o vício se instala, muitos já estão presos em um ciclo de compulsão, frustração e recaída. E como se isso não bastasse, o uso de substâncias acaba sendo o próximo passo, na tentativa de amortecer o impacto emocional.

Prevenção exige consciência e informação

A boa notícia é que é possível agir antes que o problema se instale. E a prevenção começa pela educação emocional, tanto nas escolas quanto dentro de casa.

É fundamental ensinar que a frustração faz parte da vida e que nem sempre ganhamos. Também precisamos combater a cultura da recompensa imediata e oferecer suporte a quem apresenta sinais de compulsão, mesmo que ainda esteja em fases leves.

Alguns caminhos de prevenção e apoio incluem:

  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC), indicada tanto para jogadores compulsivos quanto para dependentes químicos;
  • Grupos de apoio como Jogadores Anônimos (JA) e Alcoólicos Anônimos (AA);
  • Tratamento multidisciplinar, envolvendo psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais;
  • Acompanhamento familiar, para reconstrução das relações afetadas.

Conclusão: vício não é fraqueza — é doença

O vício em jogos, álcool e drogas não é uma questão de caráter ou moral. É uma condição clínica, complexa, que exige empatia, tratamento adequado e rede de apoio.

Se você conhece alguém passando por isso, estenda a mão. Se você se identificou com alguns dos sinais descritos, busque ajuda. Nenhum vício começa grande — mas todos podem crescer em silêncio se não forem reconhecidos.

Falar sobre o assunto é o primeiro passo para quebrar o ciclo. E, se você quiser, compartilhe aqui nos comentários sua experiência, dúvida ou opinião. Você pode ajudar alguém a dar o primeiro passo rumo à recuperação.

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